segunda-feira, 4 de abril de 2016

Um breve vislumbre sobre a infância do Ministro

Já com cinco anos fazia milagres a jogar ao Monopólio, o dado a rolar, o meu capital a multiplicar-se continuamente, a Rua do Ouro, a Rua Augusta, a Avenida de Roma, a Rua Ferreira Borges, tudo meu, hotéis atrás de hotéis, hostels, Guest Houses, já a antecipar o boom do turismo lisboeta, sentado numa ampla mesa de reuniões, uma máquina de calcular de um lado e uma daquelas dos bancos, de contar notas, do outro, enquanto via os meus amigos sentados no chão, a irem parar à prisão, a pagar à Caixa da Comunidade, a serem obrigados a passar a casa de partida sem receberem o respectivo prémio, um após outro a declararem a bancarrota, a transformarem-se nuns pobres indigentes. E a Mariazinha, que já nessa altura prometia, a entrar com uma farda de enfermeira a gritar "deixem passar a Troika" para os resgatar da falência, pobres criaturas arruinadas, e eu que já nessa altura era um liberal a gritar-lhe: "deixem os mercados funcionar, se é para falir é para falir!". E no fim a criada chamava-me à porta a bichanar, com medo de interromper os meus negócios: "Menino Ministro o almoço está na mesa". E eu então levantava-me, arrumava as minhas notas de papel na carteira Louis Vuitton, punha a minha cartola, um objecto de família passado de geração em geração, e os meus amigos, pressentindo o meu poder de liderança, levantavam-se do chão reverentes, para me seguirem até à casa de jantar onde eu me sentava a degustar uns scaloppine saltimbocca e eles se deleitavam a observar-me.

Nunca os convidei para se juntarem a mim. Era evidente pelas suas performances que não me seriam úteis no futuro.

10 comentários:

  1. "arrumava as minhas notas de papel na carteira Louis Vuitton"

    Errrrrr....

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    1. É de pequenino que se aprende a respeitar o capital, Filipa Brás. É importante arrumar as notas todas direitas na carteira, uma boa carteira de preferência, as notas tendem a gostar mais, em grupos de iguais e por ordem decrescente. Aprenda que eu não duro sempre.

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    2. ...
      então, de pequenino é que se começa a fazer aquilo com o pepino, não é o que dizem?

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    3. Finalmente alguém me compreende.

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  2. O ultimo parágrafo matou-me! :)))))))))

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  3. Tive de regressar, fiquei a remoer. A sério? Nem no fim de o Menino Ministro ter comido os deixava comer? Quanta crueldade! :))))))

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  4. Chama-se ter pulso firme, Mirone. Já em criança o Senhor Ministro mostrava traços de carácter de um líder firme.

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  5. Isto vai de mal a pior.

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  6. senhor ministro, veja lá por favor se consegue ter acesso a melhores dias, de Sol, convém dizer. atrevo-me a este pedido, uma vez que logo de pequeno, tão dotado, pressinto que há de ter habilidades/amizades/influência, daqui até ao infinito, e mais além.
    obrigada pela atenção.

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