sexta-feira, 22 de julho de 2016

Observações

Entraram na livraria com minutos de intervalo, eram ambas muito bonitas, completamente diferentes, uma tinha uma beleza clássica, a outra mais voluptuosa, uma era morena, cabelo apanhado, olhos pretos e rasgados, a outra cabelo solto cor de mel, olhos redondos e meigos, se se pudesse usar uma escala diria que estavam ambas ao mesmo nível, uma pegou num livro de Pamuk, a outra no Aleph de Borges, a edição da Quetzal com aquele papel manteiga tão bom de tocar, e no Complexo de Portnoy de Roth, cruzaram-se as duas na caixa e mesmo à distância, porque se estivesse perto seria absolutamente natural que me disputassem a atenção, apercebi-me da animosidade imediata entre as duas, da hostilidade da postura corporal, dos olhares de altivez, da batalha silenciosa de desdém a que se dedicaram mutuamente. Talvez que quando uma delas chegar aos Teólogos perceba que aquela rivalidade surda é absolutamente inútil, que afinal, para nós homens, uma e outra formam uma só pessoa, a mulher perfeita.

7 comentários:

  1. Começou tão bem Sô ministro, tinha que esbardalhar tudo no fim. raios o partam homem

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  2. Gostei muito MUITO deste post! Não fosse eu uma leitora ávida. Só não sou um desses exemplares de mulher perfeita, com muita pena minha. :p

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    1. Todas as mulheres são perfeitas à sua maneira, Mia. Só que algumas ainda não se aperceberam disso...

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    2. Mas que comentário tão querido, Sr. Ministro! Devo dizer que me ia comovendo (mas não comovi, atenção ahah... por pouco!).

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  3. "porque se estivesse perto seria absolutamente natural que me disputassem a atenção,"

    Três palavrinhas apenas suportam o peso de gerações: absolutamente, natural, disputassem.

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    1. Anos e anos de aturada observação permitem-me estas conclusões óbvias e irrefutáveis.

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