segunda-feira, 16 de maio de 2016

Maria Alice, venha cá que tenho uma coisa importante para lhe dizer, se quiser pode fazer-me um cafuné

Sabe, Maria Alice, tenho pensado muito nisto que lhe vou dizer, hesitei bastante. Eu sei que as pessoas em geral, e a Maria Alice em particular, me olham com admiração. Sim, sinto-o, as cabeças rodam, sustêm-se respirações, aceleram-se os corações, os corpos agitam-se, há todo um bruá incontido quando entro numa sala. É quase como se eu não caminhasse, Maria Alice, é como se levitasse. Os homens vêem em mim um Deus, um líder sagaz, poderoso, decidido, afirmativo, vigoroso, um estratega dotado de uma agilidade mental fora do comum, um animal político, um bon vivant elegante, culto, bonito, sedutor, rodeado das mais belas mulheres. As mulheres suspiram por mim, entregam os seus corpos aos meus desejos de luxúria. Mas de que me adianta possuir-lhes os corpos, presidir a reuniões importantes, decidir os destinos do mundo, movimentar-me com naturalidade entre as elites económicas e culturais, viajar do outro lado das cortinas, dormir nos melhores hotéis, jantar nos melhores restaurantes, esquiar nos Alpes, comprar bilhetes para a temporada de ópera de Viena e Milão. Tenho tudo, Maria Alice, mas falta-me o essencial. Estou permanentemente rodeado de gente, no entanto sinto-me sozinho. Sei que sou amado, adorado, por vezes venerado, mas não sei se alguma vez amei e isso, Maria Alice, isso destrói-me, corrói-me por dentro. Quero mais, Maria Alice, quero deixar neste mundo mais do que o meu nome numa Avenida, numa ponte, numa escola, numa fundação ou num prémio. Quero ser mais do que o Ministro que deixou o nome gravado a ouro nos compêndios de história. Quero saber o que é o amor verdadeiro, único e incondicional. Quero ter quem me faça querer voltar para casa todos os dias, quem me receba à porta, quem me perceba os humores com um simples olhar, que me adivinhe os silêncios, que me acompanhe os diálogos, que desperte em mim a vontade de ser melhor, uma companhia cúmplice para a vida. Pensei muito, Maria Alice, muito, passei noites em claro, mas sinto-me finalmente preparado para dar este passo. Maria Alice, deixe-me pegar-lhe na mão... chegou finalmente a hora...
- Ooooooh sim, Senhor Ministro, ooooh! sonhei tanto com este momento, ponha a sua mão firme e segura sobre o meu peito, sinta o meu coração, a minha respiração acelerada... oh, santo Deus, meu adorado Senhor Ministro, que me sinto a perder os sentidos...
- Sim, Maria Alice, sabia que também ia ficar entusiasmada, mas escusa de se agarrar a mim e de estar para aí a beijar-me o pescoço. A verdade, Maria Alice, é que chegou a hora de também eu adquirir um canídeo. Todos os grandes estadistas e bloggers têm um cão e eu não me posso ficar, também quero contar como me acompanha nas corridas à chuva, como me é fiel e essas coisas que eles escrevem. Além disso será um chamariz de mulheres quando sair com ele à rua.


3 comentários:

  1. Senhor Ministro, afinal de contas, debaixo dessa carapaça há um coração de manteiga... Que sentimentalão, hein?

    Vai haver passatempo para escolhermos nome é raça? Não era mal pensado, Senhor Ministro, daria aos eleitores a sensação de que as duas opiniões contam, de participarem no processo decisório.
    Eu sugeria uma caniche branca e chamava-lhe Sissi. Garanto-lhe que quando passear com ela na rua todas as cabeças se vão virar.

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    1. Parece-me uma excelente ideia, Mirone, envolver o (e)leitor na vida pessoal do do Ministro, nas suas escolhas amorosas é sempre excelente.

      (estava a pensar num animal mais imponente, talvez um galgo afegão, para a Maria Alice se entreter a pentear e pôr laços e aquelas merdas que as pessoas comuns gostam de pôr nos cães. O que lhe parece?)

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    2. Era a minha segunda hipótese. Se optar por uma raça de pequeno porte, para poder levar para os hotéis, sugiro uma yorkshire terrier miniatura.

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