quarta-feira, 27 de julho de 2016

O que está a fazer neste momento, Senhor Ministro?

(Muita calma que já estou a regressar)

 

Para que tenham real noção da minha importância

E aqui estou eu em salas de reuniões vazias criadas especialmente para eu poder ver coisas pelas janelas, coisas nunca antes observadas, em edifícios construídos especificamente para mim, com a população em êxtase pedindo-me por favor para ficar por mais uns dias, suplicando a minha presença, prontificando-se a edificar hotéis para me albergar, e eu a dizer que não, que não posso ficar, que gostaria muito mas sou necessário no meu país, que tenho mesmo de regressar, que hoje fiz rodar África, mas amanhã terei de fazer girar a Europa, que as coisas são como são e o mundo não avança sem mim.
 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Vocês não me merecem

Fónix, fui eu dispensar a Natacha...

Nascer do sol sobre o Congo

Seis da manhã, momento em que a hospedeira, a Natacha, uma loira com um metro e oitenta e copa trinta e oito, foi acordar-me para o pequeno almoço  com um sussurro ao ouvido e aproveitou a turbulência para me cair inadvertidamente no colo, ai Senhor Ministro, desculpe-me Senhor Ministro, que bem que se está ao colo do Senhor Ministro, nunca pensei que o Senhor Ministro fosse tão confortável, Senhor Ministro, sabe que eu sempre tive um fetiche com homens poderosos, políticos de carreira, homens fortes e dominadores, e enquanto me beijava o pescoço eu tive de lhe dizer num tom ríspido e severo, xô, xô, Natacha, sua doidona de metro e oitenta com um fetiche por mim, saia imediatamente do meu colo que eu quero tirar um retrato do nascer do sol para mostrar às minhas leitoras.

 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A minha vida transformou-se num oximoro

De tanto precisarem de mim em diferentes lugares em simultâneo, a percepção que tenho é a de que não saio do mesmo sítio.

(Enquanto o país se prepara para as férias, o pobre Senhor Ministro prepara-se para uma semana infernal...)

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Observações

Entraram na livraria com minutos de intervalo, eram ambas muito bonitas, completamente diferentes, uma tinha uma beleza clássica, a outra mais voluptuosa, uma era morena, cabelo apanhado, olhos pretos e rasgados, a outra cabelo solto cor de mel, olhos redondos e meigos, se se pudesse usar uma escala diria que estavam ambas ao mesmo nível, uma pegou num livro de Pamuk, a outra no Aleph de Borges, a edição da Quetzal com aquele papel manteiga tão bom de tocar, e no Complexo de Portnoy de Roth, cruzaram-se as duas na caixa e mesmo à distância, porque se estivesse perto seria absolutamente natural que me disputassem a atenção, apercebi-me da animosidade imediata entre as duas, da hostilidade da postura corporal, dos olhares de altivez, da batalha silenciosa de desdém a que se dedicaram mutuamente. Talvez que quando uma delas chegar aos Teólogos perceba que aquela rivalidade surda é absolutamente inútil, que afinal, para nós homens, uma e outra formam uma só pessoa, a mulher perfeita.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Acompanhou-me a uma reunião pela primeira vez

Entrou de queixo erguido mas bastaram uns minutos para dar com ela a passear em seu redor um olhar vago, notava-se-lhe o esforço mas o seu mutismo provava claramente que não sabia nada, que não compreendia nada. No entanto aquele semblante sério, aflito até, tornava-a ainda mais bonita. Foi por isso que a desculpei.

Hoje no encontro bilateral com François Hollande

Tive oportunidade de lhe dizer que aquilo do cabeleireiro valia realmente a pena, que ele estava com um cabelo espectacular, que era uma injustiça que ainda não o tivessem convidado para fazer aqueles reclames do cabelo Pantene.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Maria Alice, nem vai acreditar naquilo que eu fiz por si, era para ser uma surpresa mas não resisto a contar-lhe!

Como sei que gosta muito destas coisas de mulheres, dos detergentes, limpa-vidros, esfregonas e assim, inscrevi-me no concurso de ganhar um frasco de amaciador para a roupa. Primeiro ainda me inscrevi assim, com estas palavras que me brotaram do fundo do coração:

VERNEL
osenhorministro@gmail.com

(A Maria Alice, a minha secretária, queria muito uma embalagem desse detergente. Pode por favor mandar entregar na Assembleia da República em meu nome? Pensei em fazer-lhe esta surpresa que, tenho a certeza, a vai deixar muito feliz!)

(com a precipitação tinha-me esquecido de deixar o endereço de email e a palavra mágica. Não queria nada ficar de fora deste concurso tão aliciante por preterição de formalidades),

mas a blogger que nos proporciona estes momentos de qualidade vetou-me a participação por excesso de palavras e eu então limitei-me à minuta da praxe. E eis que depois de momentos de grande ansiedade, e graças a São Marcelo de Belém, verifiquei que fui bem sucedido! Fónix, Maria Alice, não está contente? Às vezes fico mesmo impressionado com o meu bom coração.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Eu parava sempre na Mimosa para comer um croquete

Por vezes fica bem a um Ministro da República aparecer assim com modos humildes, a dizer coisas plebeias.

(mentira, vou sempre de helicóptero para o Algarve...)


sexta-feira, 15 de julho de 2016

Nice

Como é que se consegue ultrapassar aquela barreira que nos impede a quase todos de matar, de fazer mal ao nosso semelhante, como é que se consegue ver a dor extrema, o sofrimento, o pânico e continuar, continuar por ali fora, a partir, a esborrachar, a esmagar pessoas e ainda assim continuar. Continuar sem hesitar. Que gene falta a estas pessoas?

quinta-feira, 14 de julho de 2016

O problema não é o plágio

O problema é que os nossos posts tinham pouquíssimos likes e isso, parecendo que não, é coisa para deitar um gajo abaixo.

Um gajo veste uma roupa sem história, praticamente a farda desportiva de qualquer Ministro que se preze, e depois, quando nada o faz supor, é alvo de Clothes-Shaming

Bastaram umas calças bege e uns sapatos castanhos para sentir na pele aquilo que uma Pipoca Mais Doce sofre diariamente nas internetes, destruindo-se assim, sem dó nem piedade, a auto-estima a um Ministro da República. A cor, a largura, a qualidade. Foda-se. Esta merda não é para todos.

(agora percebo por que razão há tanta gente a fugir da vida política. Um gajo tem de ter nervos de aço para resistir a estes ultrajes)

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que vê da sua janela, Senhor Ministro?

Pausa

Os aeroportos são uma espécie de terra de ninguém, espaços entre espaços, quando já se foi mas ainda não se chegou, talvez seja por isso que gosto disto, destes momentos em que a vida fica em suspenso. 

 

domingo, 10 de julho de 2016

Diário de uma Corveta

Vamos aqui neste mar enorme, a vinte e dois nós, a corveta está toda adornada para o lado esquerdo, em primeiro lugar porque é uma corveta da coligação e desta gente já se sabe que não se pode esperar nada, depois porque, dada a minha urgência em amuar, tivemos de a ir buscar ao Arsenal do Alfeite, onde aguardava o abate. A minha guarnição, está toda lá em baixo a beber cervejas e a comer tremoços, à espera do jogo, eu continuo amuado no convés onde estive o dia todo, já lhes disse que nem eu nem ninguém das minhas relações vê futebol.

Avisto ao longe um barco pirata a rebocar um icebergue. Serão certamente efeitos da insolação.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Foi fascinante a noite de ontem, não concorda, Maria Alice?

Nós os dois a conviver no blog do Dr. Pipoco, sob a luz de um lustre de oitenta velas, flute de champanhe na mão e a debicar canapés, a circular de comentário em comentário, a parar para ouvir uma ou outra declamação poética, vozes que se agitavam no ar como um imenso beijo espargido, estrofes perdidas aqui, versos sussurrados acolá, as sombras e os murmúrios a fundirem-se, abrigados pelos enormes cortinados que bamboleavam com a brisa que entrava pelas grandes janelas abertas, rolhas que saltavam das garrafas, a poesia a cintilar nas pupilas dilatadas, um “boa noite” para esquerda, um aceno de cabeça para a direita, acenos entre membros de uma irmandade invisível. Enfim, Maria Alice, ontem foi uma boa noite. Agora pode ir que tem muito trabalhinho para fazer, enquanto eu aproveito para me recostar um bocadinho aqui no sofá.


quarta-feira, 6 de julho de 2016

Coisas...

E então ela, habituada que deve estar aos maneirismos lá daqueles sítios onde as pessoas em geral convivem umas com as outras, confundiu o meu à vontade, a minha simplicidade requintada, com a expressão de uma simpatia instantânea e avançou até mim bamboleando-se no alto daqueles sapatos e esticando o decote pronunciado debaixo dos meus olhos, deu-me dois grandes beijos na cara, sem perceber no entanto que a minha ausência de palavras se devia àqueles enormes brincos de peluche alaranjado que lhe pendiam ao longo do rosto, como duas grandes orelhas de um Setter Irlandês.

domingo, 3 de julho de 2016

Lanço daqui o apelo a todos os homens de bem para que este verão não se deixem levar pelos maus costumes

Tal como São Marcelo de Belém também eu entendo que nós, os políticos de direita, devemos frequentar a praia de fato, gravata e sapatos de atacadores, é muito importante manter o estatuto em toda e qualquer circunstância, criar uma barreira intransponível entre nós e os governados, mostrar que somos diferentes, para melhor evidentemente. Vamos elevar o nível e deixar essa pouca vergonha de corpos nus, bronzeados e estendidos na areia, para as gentes de esquerda com rastas no cabelo. Marco desde já uma manifestação Buisness Suits na fila da frente dos toldos do Ancão para que possam demonstrar todo o vosso apoio a esta minha iniciativa mais que meritória. Já é tempo de acabar com a libertinagem nas praias de Portugal!