No fundo ela só queria que ele desse um murro na mesa, que a mandasse calar, que lhe pegasse na mão, que lhe dissesse que a amava, que reagisse. Ele? Ele calou-se para ver se ela se acalmava.
domingo, 19 de junho de 2016
Claro que aquilo não vai correr nada bem
Ela já chegou mal encarada, com uma expressão crispada, sentaram-se cada um do seu lado da mesa, ele com os braços cruzados sobre o peito, em posição de defesa, ela com as palmas das mãos dobradas sobre a esquina da mesa, os nós dos dedos brancos, as unhas a transformarem-se em garras, encetaram uma conversa que rapidamente passou a monólogo em que se sentia a fúria dela a crescer, a cara a ficar ruborizada, a cor a descer-lhe para o pescoço, a expressão tensa, mais que tensa, colérica, as palavras a subir de tom, a transformarem-se numa altercação solitária, quando trouxeram o almoço ela pegou nos pauzinhos com raiva, debicava o arroz de forma agressiva, os grãos a saltar em volta do prato, a voz estridente ressoava pela esplanada, cada vez mais alto, cada vez mais zangada. Ele olhava em frente como os maxilares cerrados, sem nada dizer.
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