terça-feira, 31 de maio de 2016

Maria Alice, disseram-me agora mesmo que São Marcelo de Belém vai ter uma estátua no Museu de cera?!

Pois eu exijo ter uma estátua de chocolate no Festival de Óbidos! Trate disso asap!


Venham aqui ao Senhor Ministro, minhas formosuras

Venham, sentem-se aqui à minha volta - se quiserem pode ser mesmo ao meu colo, isso mesmo, ah que confortáveis estamos assim encostadinhos - que o Senhor Ministro é um homem muito macho porém bastante sensível, não é  nada como o Dr. Pipoco, esse mauzão, que diz coisas feias sobre a Elena Ferrante, um despautério, praticamente uma blasfémia, nem queria crer naquilo que os meus olhos azuis estavam a ler. Mas adiante, que aqui o Senhor Ministro até já vai no segundo volume, tal é o interesse que esta situação da amizade no feminino lhe desperta, a Lulu e a outra, sempre a calcorrear lá o bairro, com imensos pobrezinhos (gosto tanto!), todos aos gritos e às facadas. Vá, venham para aqui para junto de mim - pronto, pronto, já chega de beijos - e deixem-no para lá com as suas idiossincrasias.

 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Sabe, Maria Alice...

É sempre muito engraçado observar daqui de cima a forma como os Sansões, os responsáveis administrativos pelos vários Lagos, se esforçam por escorregar bem lá naquela coisa da neve, com aquelas tábuas nos pés, ou lá o que é aquilo, aqueles óculos de mergulho e aqueles babygrows almofadados, já me viu bem o disparate, Maria Alice?, totalmente desconhecedores que eu quando eu aqui recebo os cv para cargos verdadeiramente importantes, me limito a escolher aquele que tem o handicap mais baixo...

(é que não era preciso perceber muito destas coisas para saber que as coisas são como são, ora imagine lá o que seria fechar negócios daqueles que realmente interessam, aqueles que fazem mudar o PIB do país, a resvalar por uma montanha abaixo...)

sábado, 28 de maio de 2016

Felizmente que já nasci assim

Assim não tive que estudar nem com a minha mãe, nem com ninguém. Na verdade não tive sequer de ir à escola. Afinal quem precisa de estudar se já é Ministro?


sexta-feira, 27 de maio de 2016

Onde está neste momento, Senhor Ministro?

Num local extremamente romântico. Agora só me falta o romance.
 

Um homem vem às internetes de coração aberto, declarar que está pronto para amar e o que é que recebe em troca?

Despeito e hostilidade.

(Mas já devia estar à espera disto, afinal as mulheres de hoje em dia são mesmo assim, muito adversas a isto do amor, chegam a ser agressivas, com a mania das independências e cheias de sonhos profissionais, já não há mulheres carinhosas, amigas do seu marido, mulheres que queiram formar uma família, ser guardadoras do lar, cuidar dos filhos com desvelo, abdicar da carreira para que o homem possa trabalhar em paz e sossego, é tudo agressividade e competição, tudo um ultraje, uma confusão. Enfim, este mundo está virado ao contrário, é o que é)


quarta-feira, 25 de maio de 2016

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Senhor Ministro, já está deitado?

Vim ver se a camareira tinha posto na cama a almofada que lhe trouxe de Lisboa e trazer-lhe o leitinho morno com açúcar. Fica aqui, no criado-mudo. Já mandei preparar o fato para amanhã com a gravata que me pediu, está pendurado no manequim. Marquei com o barbeiro logo às sete, prefere outra hora?
Quer que lhe leia um pouco para o ajudar a adormecer? Que lhe cante um lullaby?
Senhor Ministro? Senhor Ministro?

Oh, já dorme, o meu anjo... Sempre destapado, sujeito a arrefecer. Vou só beijá-lo e ajeitar-lhe essa vírgula que lhe cai para a testa. Bons sonhos!

Sabe, Maria Alice, decidi que tenho de fazer um downgrade a este blog

Falar daquele sushi do Yakuza, de comer e chorar por mais (é assim que se diz, não é, Maria Alice?), daquela viagem no meu Mercedes classe A, motor a diesel de quatro cilindros, meio minuto dos zero aos cem, a ouvir Bach com a janela aberta e os cabelos ao vento, de como é bem bom voar de EasyJet e marcar apartamentos muito em conta no Airbnb, ver as horas no meu relógio Hugo Boss de mostrador azul com as fases da lua e de comprar os meus fatos na Pull & Bear, ou lá o que é, que tive que ir ver à net.

É incrível esta merda de encarnar um personagem! Fónix, até pareço mesmo um pobrezinho amoroso! Assim de certeza que se vão identificar mais comigo, não acha, Maria Alice? 

Sabe, Maria Alice, acho que o meu mundo é demasiado hermético para esta gente...

Afinal, quantas pessoas disto dos blogs saberão do que estou a falar quando digo que jantei um robalo ao sal num restaurante do Guincho, a que me refiro quando discorro sobre o prazer de conduzir um desportivo alemão com trezentos e nove cavalos, sem música, que o roncar do motor é mais que suficiente, quando afirmo que sou o simples portador de um relógio que me limito a transportar entre uma e outra geração, quando falo daquilo que se passa do outro lado da cortina, de meia vida passada a dormir em hotéis de cinco estrelas, da satisfação que é vestir um fato feito à medida em Savile Row. Ninguém, não é, Maria Alice? 

E um gajo assim sente-se muito sozinho...

sexta-feira, 20 de maio de 2016

E a si, Senhor Ministro, o que lhe trouxeram os blogs?

Mulheres. Mulheres por todo o lado.

Pá, escusam de vir mais. A sério. Já chega.


(li isto da psicologia invertida num livro muito bom, com muitas páginas, dizia lá que as gajas ficam malucas quando se diz que não podem não sei quê. Espero bem que esta merda funcione)


quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ó Maria Alice, como é que um gajo se defende daquelas acusações pueris ali em baixo?

Que digam que o Senhor Ministro não trabalha, que é um ultra-conservador de direita, que viaja pelo mundo em executiva, alojando-se nos melhores hotéis e frequentando os melhores restaurantes, gastando o dinheiro do Estado à grande e à portuguesa, como um verdadeiro super-herói, uma espécie de Robin dos Bosques ao contrário, pá, tudo bem, é verdade. Agora que digam que um Ministro como eu - e olhe bem para mim, Maria Alice! - é, enfim, florzinha?!Florzinha, Maria Alice! Foda-se, ó Maria Alice, o que é que um gajo faz a isto?!

Epá, agarre-me, Maria Alice, agarre-me que eu estou a pontos de partir esta merda deste jarrão da chinês da dinastia Shang para provar a umas e outras que sou muito macho, ó caralho!


terça-feira, 17 de maio de 2016

Ó Maria Alice, esta merda dos blogs é um logro!

Há aqui qualquer coisa que nos está a correr mal, qualquer coisa que nos está a escapar, é que sabe, Maria Alice, sinto que não somos devidamente apreciados… Ora se por um lado é natural que a Maria Alice não seja particularmente estimada, afinal não passa de uma pessoa simples, igual a tantas outras, o mesmo não se pode dizer de mim! É que, caraças, Maria Alice, eu sou um gajo poderoso e as pessoas gostam de estar perto do poder, para além disso sou naturalmente adorável, praticamente fofinho, bilu-bilu-bilu - olhe aqui eu deitado de barriga para o ar, a mexer as patinhas e a esfregar as costas no chão - por isso pergunto, Maria Alice, o que é esta merda?

A única explicação que encontro é que isto seja obra dos sindicalistas, que nos tenham posto um piquete à porta para impedir a entrada dos (e)leitores…


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Reação ao jogo


Maria Alice, venha cá que tenho uma coisa importante para lhe dizer, se quiser pode fazer-me um cafuné

Sabe, Maria Alice, tenho pensado muito nisto que lhe vou dizer, hesitei bastante. Eu sei que as pessoas em geral, e a Maria Alice em particular, me olham com admiração. Sim, sinto-o, as cabeças rodam, sustêm-se respirações, aceleram-se os corações, os corpos agitam-se, há todo um bruá incontido quando entro numa sala. É quase como se eu não caminhasse, Maria Alice, é como se levitasse. Os homens vêem em mim um Deus, um líder sagaz, poderoso, decidido, afirmativo, vigoroso, um estratega dotado de uma agilidade mental fora do comum, um animal político, um bon vivant elegante, culto, bonito, sedutor, rodeado das mais belas mulheres. As mulheres suspiram por mim, entregam os seus corpos aos meus desejos de luxúria. Mas de que me adianta possuir-lhes os corpos, presidir a reuniões importantes, decidir os destinos do mundo, movimentar-me com naturalidade entre as elites económicas e culturais, viajar do outro lado das cortinas, dormir nos melhores hotéis, jantar nos melhores restaurantes, esquiar nos Alpes, comprar bilhetes para a temporada de ópera de Viena e Milão. Tenho tudo, Maria Alice, mas falta-me o essencial. Estou permanentemente rodeado de gente, no entanto sinto-me sozinho. Sei que sou amado, adorado, por vezes venerado, mas não sei se alguma vez amei e isso, Maria Alice, isso destrói-me, corrói-me por dentro. Quero mais, Maria Alice, quero deixar neste mundo mais do que o meu nome numa Avenida, numa ponte, numa escola, numa fundação ou num prémio. Quero ser mais do que o Ministro que deixou o nome gravado a ouro nos compêndios de história. Quero saber o que é o amor verdadeiro, único e incondicional. Quero ter quem me faça querer voltar para casa todos os dias, quem me receba à porta, quem me perceba os humores com um simples olhar, que me adivinhe os silêncios, que me acompanhe os diálogos, que desperte em mim a vontade de ser melhor, uma companhia cúmplice para a vida. Pensei muito, Maria Alice, muito, passei noites em claro, mas sinto-me finalmente preparado para dar este passo. Maria Alice, deixe-me pegar-lhe na mão... chegou finalmente a hora...
- Ooooooh sim, Senhor Ministro, ooooh! sonhei tanto com este momento, ponha a sua mão firme e segura sobre o meu peito, sinta o meu coração, a minha respiração acelerada... oh, santo Deus, meu adorado Senhor Ministro, que me sinto a perder os sentidos...
- Sim, Maria Alice, sabia que também ia ficar entusiasmada, mas escusa de se agarrar a mim e de estar para aí a beijar-me o pescoço. A verdade, Maria Alice, é que chegou a hora de também eu adquirir um canídeo. Todos os grandes estadistas e bloggers têm um cão e eu não me posso ficar, também quero contar como me acompanha nas corridas à chuva, como me é fiel e essas coisas que eles escrevem. Além disso será um chamariz de mulheres quando sair com ele à rua.


domingo, 15 de maio de 2016

O que está a fazer neste momento, Senhor Ministro?

Não percebo. Estão todas à cotovelada, a sussurrar "é o Dr. Pipoco, é o Dr. Pipoco!", mas eu estou farto de olhar em volta e não o vejo em lado nenhum!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Senhor Ministro, Senhor Ministro, socorro!

- Socorro! Socooooooorro!
- Fónix, ó Maria Alice, mas que gritaria é esta? Um gajo está aqui a dormir o sono dos justos, e bravos, poderosos, influentes, garbosos, elegantes, sedutores, e essas cenas todas que eu sou, e você interrompe-me assim aos gritos? Logo agora que estava a sonhar com a Bo Dereck no cavalo, ela toda nua, eu vestido de Tarzan... Caraças, a psique dum gajo com responsabilidades não sossega, de certeza que isto tem a ver com o cavalo do, sim, esse.
- Senhor Ministro, é uma catástrofe, uma calamidade, não sei mesmo se não é uma tentativa de golpe de Estado. Socorro!
- Ó mulher, componha-se! Já viu como está, toda descabelada? Ajeite essa roupa, endireite os óculos! Mas qual golpe de Estado? Isto lá são horas para um golpe do que quer que seja?
- Senhor Ministro, é um sapo! Eu vi um sapo, um grande sapo, estava a olhar, pronto a atacar! Está lá fora um sapo gordo, viscoso, flácido que não para de olhar para mim. Socorro, Senhor Ministro! Deixe-me esconder dentro da cama.
- Tenha juízo, Maria Alice! Parece a Maria Armanda, eu vi um sapo, um grande sapo! Porra que já me estragou o dia! Mas acha que eu me chego perto dum bicho desses, sujeito a ficar como meu pijama de seda cheio de gosma peçonhenta? Viu um sapo, olhe, beije-o!
- Beijar o sapo?!
-Isso mesmo, beije-o que deve ser isso que lhe faz falta. Nunca ouviu dizer que os sapos se transformam em príncipes quando são beijados?
- Um príncipe, Senhor Ministro? E para que quero eu um príncipe, Senhor Ministro?! Umas criaturas que hoje em dia já não mandam em nada? Ainda se se transformasse num Ministro era capaz de valer a pena, agora num príncipe...


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Reflexões matinais de um Ministro enquanto sentado à cabeceira da mesa de reuniões

Sabe Maria Alice, às vezes gosto de me sentar aqui na cabeceira da minha grande mesa de reuniões logo pela manhãzinha, e fico à espera de os ver entrar, vêm muito lestos, passinhos apressados, pasta na mão, a expressão grave e circunspecta de quem está a pensar em cenas mesmo importantes, de quem não tem um minuto a perder com minudências, retiram os seus ipads, sentam-se muito direitos e trocam afincadamente banalidades monocórdicas embrulhadas em presunção. Sabe, Maria Alice, no fundo são pessoas que se atribuem muita importância, gentes que se levam muito a sério. Serão Bloggers, Maria Alice?

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Flor, está aí? Maria Flor?

Flooooor!
Já viu as horas? Já passam vinte minutos das sete, onde está? Tínhamos marcado às sete no meu blog, por sugestão da flor, pasme-se!
Começamos muito mal, flor, muito mal. Aliás, não chegámos sequer a começar. Foram ultrapassados todos os limites, não há tolerância protocolar que resista, tomo a sua ausência como um sinal manifesto de abandono do estágio. Deserção!
A flor sabe que o Senhor Ministro tem uma agenda preenchidíssima e que não admite atrasos. Todos os seus atos são cronometrados ao segundo. A esta hora devia estar a ser acordado com beijos e carícias, era mandatório que cá estivesse, flor!
Por S. Marcelo de Belém, será assim tão complicado cumprir ordens simples e horários? Depois venham queixar-se que os estágios não remunerarmos são isto e aquilo. Tem noção do privilégio que seria frequentar a mais alta esfera ministerial, privar com o Senhor Ministro, observar um génio político em ação, vê-lo tomar as rédeas de um país, decidindo os destinos de uma nação?
Sabe quantas pessoas dariam tudo para estar no seu lugar, flor, acaso sabe? E sabe o estado em que ficaram as mãos fortes, porém macias, do Senhor Ministro depois de com elas ter arrancado as nespereiras do jardim? Sabe o entusiasmo quase infantil com que se deitou, antecipando os seus e carinhos ao despertar?  Aaaaahhh, flor, que desilusão! Desertora, a flor revelou-se uma desertora. Não sei se o Senhor Ministro alguma vez perdoará este seu ato irrefletido, irresponsável, inadmissível, intolerável, ignome, infame.

Bom, vou acordar o Senhor Ministro, hoje precisará de beijos e carinhos reforçados.

(Santo António, santo Antoninho, eu te agradeço este arranjinho. Muito obrigada, meu Santo, que afastas dos meus caminhos todas as pedras e espinhos!)

terça-feira, 10 de maio de 2016

Ó Maria Alice, rápido, rápido, chegue aqui! Depressa!

Olhe lá aquilo ali! Aquilo não é o veículo do...? Sim, desse! Estranho, não é? A verdade é que ele anda um bocado desaparecido... Querem lá ver que o GPS se lhe avariou e ele está aqui perdido por entre as ervas?! Vá lá ver, Maria Alice, vá lá bater o território a ver se o encontra, que ele pode precisar  da nossa ajuda!



segunda-feira, 9 de maio de 2016

O estranho caso dos personagens que desapareciam da história, por Maria Alice

O vento uivava lá fora e a chuva fustigava a janela do meu quarto enquanto eu, mortificada de preocupação, procurava em vão moldar a almofada à minha cabeça. Ainda sentia o barulho do motor do avião a zoar nos ouvidos. Mudei de posição incontáveis vezes, sentia o corpo cansado da viagem de longas horas no último lugar do avião que nos trouxe de volta, mas o sono não vinha.
Horas antes tinha avisado o Senhor Ministro de forma insistente, que tinha acabado de regressar de viagem, que precisava de descansar, pedi-lhe que não comparecesse ao misterioso rendez-vous, que era um logro, um embuste, mas impulsivo como é, não me deu ouvidos. Antes me ordenou que encomendasse um vistoso ramo de flores e mandasse preparar o seu melhor smoking e cartola.
O ribombar ensurdecedor de um trovão, seguido do clarão forte do relâmpago, fez-me saltar da cama. O meu coração não me enganava, o Senhor Ministro corria perigo e eu precisava de ir ao seu encontro. Não havia tempo a perder. Prendi o cabelo num coque, calcei os stilettos pretos e vesti a primeira coisa que encontrei, a gabardine pousada na cadeira do quarto, cingi o cinto vigorosamente, e liguei ao motorista para que me levasse à morada onde tinha deixado o Senhor Ministro.
Era um edifício antigo mas bem preservado e via-se luz em duas janelas do terceiro andar. A porta de madeira trabalhada estava aberta e eu corri para me abrigar da chuva e entrei. Subi as escadas que me levaram ao terceiro andar e deparei-me com uma porta aberta. Um longo corredor levava-me a uma sala ampla, comprida. Bem no centro, uma cadeira tombada, o tapete enrugado e o ramo de flores desfeito indicava que algo de muito grave se tinha passado ali, como se tivessem arrastado um corpo inanimado, o do Senhor Ministro! Estremeci. Em cima de uma mesa escura com tampo de mármore havia um telefone fora do descanso. Do outro lado da linha uma voz falava incessantemente e, aflita, pedi ajuda, que chamassem a polícia, o exército, os serviços secretos, alguém, o Senhor Ministro corria perigo de vida. Não cheguei a desligar o telefone, senti uma forte pancada na cabeça e ficou tudo escuro. Retomei os sentidos fora da história, amarrada ao Senhor Ministro.
- Fónix, Maria Alice! Porque é que demorou tanto tempo? Ajude-me mas é a desatar estas cordas e vamos embora daqui que já vi que afinal a gaja que eu conheci na net era um tarado que só queria brincar aos fotógrafos, andava aí aos saltos a tirar fotografias com uma máquina sem rolo e depois foi embora. Vá, meneie-se, serpenteie-se, mulher! Continue, a corda está a ganhar folga. Isso! Já está, vamos! Espero que tenha mandado o motorisa esperar, Maria Alice!
Na sala ficou apenas a voz, falando ininterruptamente pelo telefone.

O estranho caso dos personagens que desapareciam da história

Subi os degraus dois a dois, um grande ramo de flores numa mão e um rasto de perfume a espalhar-se atrás de mim. Quando cheguei ao patamar do terceiro andar tirei a cartola, passei a mão pelo cabelo, e voltei a colocá-la, ajeitei o smoking, endireitei o laço e vi-me reflectido nos meus sapatos impecavelmente engraxados, depois respirei fundo e toquei finalmente à campainha. Esperei. Quando estava pronto a tocar segunda vez a porta abriu-se sem que houvesse alguém do outro lado para me saudar. Hesitei, claro, todos sabemos como os Ministros podem ser alvo de ataques perpetrados pelas mentes mais perversas, ainda assim e como homem corajoso que sou, entrei, pisando a alcatifa vermelho-sangue com passadas seguras. Segui por um longo corredor que desembocava numa sala ampla, rectangular, duas grandes janelas ao fundo e sentei-me numa cadeira que se encontrava no centro da sala. Estranhei aquele facto, como é evidente, afinal era suposto encontrar-me ali com uma admiradora que conheci na net, uma admiradora que se confessava loucamente apaixonada por mim e que me tinha enviado uma fotografia que provava como era bela; estranhei também que aquele telefone estivesse fora do descanso e que aquela voz falasse sem parar. Por momentos até pensei que fosse a Maria Alice, que me pediu insistentemente para cancelar este encontro, que era um logro, um embuste, mas eu percebi logo que aquilo eram os ciúmes dela a falar mais alto e não lhe dei ouvidos. Depois de muitos minutos sem nada acontecer, só um Ministro sexy sentado numa cadeira e uma voz a sair do auscultador, acabei por baixar a cabeça, apertando-a entre as mãos. Foi então que vi sair de uma pequena porta ao lado do piano um exército de gnomos assustadores, não que eu tivesse medo - nada disso! – mas depressa percebi que aquilo era gente duvidosa, perigosos esquerdalhas miniatura, de barba cerrada, camisola de gola alta preta e blazers de veludo cotelê amarrotados, e então, pressagiando uma situação menos clara, tirei imediatamente a minha varinha mágica de dentro da cartola e  disse com voz grossa enquanto lhes apontava a varinha: Saiam! Xôoo! É este o momento de abandonarem para sempre esta história! Mas as minhas personagens não saíam, eram teimosas e indisciplinadas e eu insisti, de varinha em riste, ameaçando-os, obedeçam-me imediatamente, olhem que eu sou uma pessoa importante, um figurão governamental! Mas a varinha parecia um comando de televisão sem pilhas, eu agitava-a, agitava-a, mas ela não me mudava o canal os gnomos cada vez mais perto e foi então que de modo totalmente inesperado fui atingido na nuca com um objecto contundente. 

Acordei muito tempo depois, amarrado e a ser arrastado ao longo do corredor para fora desta história, enquanto um fotógrafo falante saltitava em meu redor e me tirava retratos com uma máquina sem rolo, ameaçando-me com a divulgação das imagens e extorquindo-me a totalidade da subvenção anual do meu Ministério. Na sala ficou apenas a voz, falando ininterruptamente pelo telefone

sábado, 7 de maio de 2016

Awwwwww, onde estou?! Quem sou eu? O que é isto aqui na minha cama?!

MARIA ALICE?! Fónix, Maria Alice,o que está aqui a fazer?! Tape-se, Maria Alice! Tape-se que a nossa relação, como bem sabe, é meramente profissional!


sexta-feira, 6 de maio de 2016

É agora! É agora! Estou aqui à porta!

Fónix, até me estou a rir do nervoso! Acha mesmo que arrisque, Mirone?!


Fónix, ó Mirone, isto é um bocado assustador!

Acha que avance? Ainda me aparecem as gémeas do Shining ó caraças!


Mirone?

Pronto, já vesti os calções e a camisa caqui, já calcei as meias pelos joelhos e pus o chapéu de explorador na minha cabeça perfeita. Mais alguma coisa? Umas botas de crocodilo? Ou vou mesmo assim, descalço?


Mirfgone?

Já desgdpachei o janoitar. Conmi ass maldgguuetas todadssssss e estooiu a deitjhjar labaredaxsx pelaaa bocna, masss atlké ascho queee issço podkee funccionar a meu favoookr. Nãoos ascha qutue é sexty? Paresscço um draggsgão, ó caraçasss!

Mirone? Enquanto eu janto, veja lá se o chapéu está bem

 

Mirone? Mirone, está aí?

Nem jantei como deve ser para me preparar para esta grande noite no hotel. Já aqui estou no quarto, sem saber o que vestir. Acha que devo ir bater à porta das gajas boas de pijama, como quem vai pedir um bocadinho de pasta de dentes à vizinha do lado, veja lá que pouca sorte, a minha acabou-se e não tive tempo de comprar mais, ou vou de fato e gravata, a deixar um rasto de perfume másculo pelos corredores e com uma rosa vermelha na boca?

Maria Alice, rápido, ponha-se aí no meio do gabinete a cantar!

Isso, isso, cante! Cante que enquanto a Maria Alice canta eu vou treinando uma dança para, também eu, fazer em cerimónias oficiais, visitas de Estado e cenas diversas, uma coisa que me identifique, uma espécie de impressão digital, está a ver-me a rodopiar à sua volta? Sim? Estou a ir bem, Maria Alice? Agora vou da Maria Alice para a mesa de reuniões e da mesa de reuniões para a Maria Alice abanando o meu corpo ao som da sua voz. E agora os dois juntos, Maria Alice! Bracinhos no ar, vai a um lado, vai a outro! Excelente, Maria Alice, excelente! Até parece que andámos na natação sincronizada! Vá, cante Maria Alice, cante! Mais alto! Ânimo! E agora este golpe de anca, Maria Alice? Parece-lhe interessante? Anca para a frente, anca para trás, caramba, Maria Alice, como é que eu não pensei nisto antes? Sinto-me extremamente sexy a perpetrar estes movimentos, tenho a certeza que os Chefes de Estado por esse mundo fora também vão aderir a esta Tendência São Marcelo de Belém, já me estou a imaginar a dançar com a Fraulein Merkel, a levantar o Hollande no ar, a levá-lo às cavalitas, a fazer-lhe a cambalhota, caramba, Maria Alice, até podíamos criar uma academia de dança, os Chefes de Estado de Apolo! O que lhe parece, Maria Alice?

quinta-feira, 5 de maio de 2016

No fundo encontro-me numa gigantesca Calçada do Carriche

 

Por onde anda hoje, Senhor Ministro?

 

Um dia como outro qualquer

E aqui estou eu sentado à secretária, a luz do computador brilhando na penumbra, cegando-me, entrando-me pelos olhos, os óculos de ver ao perto pousados no tampo, não me permitindo ver nada no raio de um metro, selvagem, autêntico, a juntar letras que formam palavras e depois frases, textos inteiros jorrando das minhas mãos firmes e seguras, textos comprimidos numa só folha, concebendo ordens que decidirão o futuro dos outros, uma satisfação trabalhar com o cérebro, uma coisa viva, uma maneira de retaliar contra o mundo, de impor aos outros a sua dose de castigo. E aqui estou eu sentado sobre a grande cadeira rotativa, vacilando e recuperando o equilíbrio, cada ideia mais admirável que a anterior, a mão esquerda ancorada sobre o papel, a direita segurando a Montblanc, um clip preso entre os dentes. O sabor do metal na boca. Braços e ombros como cordas agora, fortes e curtidos pelo esforço, pelo tempo passado aqui. Os músculos, uma maneira de recordar, um retorno, o trabalho árduo como única consolação. E então escrevo durante horas, alinhavo frases, serro-lhes as vírgulas, alço-as para o sítio certo, enfio-lhes escoras por baixo, endireito o papel sem me importar no entanto que fique para sempre torto, o gabinete torna-se uma jaula, um campo de batalha, sem ninguém a quem pedir ajuda, a responsabilidade pairando sobre mim, desejando estar assim, abandonado, sozinho, sem ter sequer a Maria Alice como testemunha, como um animal feroz. Simplesmente o mais forte desfazendo o mais fraco.


terça-feira, 3 de maio de 2016

Derivado da surpreendente afluência a esta incrível unidade hoteleira onde me encontro



Se alguém quiser trocar duas ou três palavrinhas aqui em baixo na caixa de comentários, o Senhor Ministro informa que se encontra disponível.

domingo, 1 de maio de 2016

Não quis, também eu, deixar de fazer o meu primeiro post de homenagem a minha mãe

A mãe que me educou desde o berço para esta arte de ser Ministro, que ainda na maternidade me colocou a minha primeira gravata com um nó windsor duplo e me apresentou à imprensa à saída do hospital vestido com um mínusculo fato cinzento às riscas, que me ofereceu a primeira Montblanc aos dois anos, para me permitir treinar a assinatura com que ainda hoje embelezo documentos e contratos de elevado valor, a mãe que me presenteou com o primeiro orçamento de Estado encadernado e anotado aos cinco, a mãe que contratou Maria Alice, tinha ela seis anos e eu sete, e a vestiu imediatamente com uma saia preta, blusa branca e óculos de massa preta para que eu me habituasse desde pequeno a dar ordens e ela aprendesse a obedecer-me prontamente, a mãe que me acompanhou no primeiro dia de escola, enquanto eu seguia dois passos à frente segurando com a minha pequena mão a pasta rígida de pele preta e cantos dourados, distribuindo apertos de mão enérgicos pelos meus colegas, a mãe que deixou bem claro às minhas educadoras que deveriam dirigir-se a mim como Senhor Ministro e incentivar-me a investir o meu -já nessa altura - precioso tempo a redigir importantes e complexos Decretos-Lei que lhe ofereceria com um laço cor de rosa neste dia especial, no fundo a mãe que nunca duvidou que eu me viesse a tornar o homem incrível que sou hoje.