- Socorro! Socooooooorro!
- Fónix, ó Maria Alice, mas que gritaria é esta? Um gajo está aqui a dormir o sono dos justos, e bravos, poderosos, influentes, garbosos, elegantes, sedutores, e essas cenas todas que eu sou, e você interrompe-me assim aos gritos? Logo agora que estava a sonhar com a Bo Dereck no cavalo, ela toda nua, eu vestido de Tarzan... Caraças, a psique dum gajo com responsabilidades não sossega, de certeza que isto tem a ver com o cavalo do, sim, esse.
- Senhor Ministro, é uma catástrofe, uma calamidade, não sei mesmo se não é uma tentativa de golpe de Estado. Socorro!
- Ó mulher, componha-se! Já viu como está, toda descabelada? Ajeite essa roupa, endireite os óculos! Mas qual golpe de Estado? Isto lá são horas para um golpe do que quer que seja?
- Senhor Ministro, é um sapo! Eu vi um sapo, um grande sapo, estava a olhar, pronto a atacar! Está lá fora um sapo gordo, viscoso, flácido que não para de olhar para mim. Socorro, Senhor Ministro! Deixe-me esconder dentro da cama.
- Tenha juízo, Maria Alice! Parece a Maria Armanda, eu vi um sapo, um grande sapo! Porra que já me estragou o dia! Mas acha que eu me chego perto dum bicho desses, sujeito a ficar como meu pijama de seda cheio de gosma peçonhenta? Viu um sapo, olhe, beije-o!
- Beijar o sapo?!
-Isso mesmo, beije-o que deve ser isso que lhe faz falta. Nunca ouviu dizer que os sapos se transformam em príncipes quando são beijados?
- Um príncipe, Senhor Ministro? E para que quero eu um príncipe, Senhor Ministro?! Umas criaturas que hoje em dia já não mandam em nada? Ainda se se transformasse num Ministro era capaz de valer a pena, agora num príncipe...
De facto tem toda a razão, Maria Alice, isso dos príncipes está completamente obsoleto, deviam reformular todas as histórias infantis o quanto antes! Substituir os príncipes por Ministros!Actualizar as narrativas a este novo tempo! Não percebo como não pensei nisso antes! Vou já legislar nesse sentido, Maria Alice! Porra, saia-me daqui de dentro da cama, ó caraças!
ResponderEliminarMando chamar o Ministro da Educação, Senhor Ministro, para tratarem da revisão das metas curriculares?
EliminarBom dia Maria Alice.
ResponderEliminarNão se assuste, era uma rã que apareceu no tanque das tartarugas.
...sendo uma rã, deveria ser o Ministro a beijá-la, não lhe parece?
É um sapo, Outro Ente, reconheço-os à distância.
EliminarLá no seu tanque, muito bem, é uma rã, mas este que aqui está é um sapo.
Vai ajudar-me ou vai ficar outra vez a elencar as características das rãs e dos sapos?
Maria Alice, se é um sapo peçonhento, faça como Filipa. Qual é a dúvida?
EliminarÓ Outro Ente, que história é esta da Filipa e dos Sapos, eu, que cada vez os detesto mais?
EliminarHmn?
Vamos lá a esclarecer esta história de uma vez por todas!
Se é para tirar coisas a limpo, quero cá a Carla.
EliminarOra então diga là o que quer á carla que eu tenho ali umas pratas prariar não tenho tempo praestas modernisses.
EliminarDigo cá que quero muito à Carla. Praiar? Não percamos tempo!
Eliminar(Sabe, Carla, a sua patroa tem dias. Então não é que ela diz que não gosta de sapos e queixa-se de batráquios. E, logo eu, pimba, faço coro e aponto o dedo à invasão de batráquios. E, a sua patroa, nem uma nem duas. - Foram logo três duma vez. - Logo a seguir, elogio-lhe a eficácia a livrar-se de peçonhentos. E, a sua patroa de caracolinhos dourados, armada em loira com u, vem armar-se em sonsa e dizer que não percebe. Oramésságora! E, isto tudo, depois de, por indicação de sua patroa, ter eu avançado para lá do aviso de sodoma e gomorra, para encontrar o renascimento renascentismo iluminista, o pum nos direitos e deveres, o pim nas liberdades e uma anomia que até me deu anemia. Praiemos, Carla, das pernas tortas. Praiemos, que sua patroa está em dia de desconversar.)
Ó Filipa Brás, eu e a Carla vamos praiar. A menina pode ficar a ver navios!
Txi, pátrão.
EliminarQué quisto tudo quer dezer?
Não dá pa partir em bocadinhos? É que com tanto ladrilho pa esbranquissar, fico sem tempo pa estudar e depois percebo pouco destas línguas antigas.
Axa que vá chamar a Filipa?
Ooohhhh opróbrio que sobre mim se abate! Não haverá neste mundo um cavalheiro que se disponha ajudar-me?
ResponderEliminarTerei eu, Maria Alice, de enfrentar a tormenta sozinha?
O mostrengo que está no patamar
Na noite de breu ergueu-se a rastejar
O átrio enlameou três vezes,
Pisou três vezes a sujar.
E disse: «Quem é que ousou entrar
No meu jardim que não desvendo,
Meus belo canteiro florido»
E a Secretaria disse, tremendo:
«O Senhor Ministro mais querido!"
«De quem são os luxuosos tapetes que piso?
De quem as porcelanas e pratas que vejo»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do jardim florido?»
E a Secretária tremeu, e disse:
«O Senhor Ministro mais querido!»
Três vezes à cabeça as mãos ergueu,
Três vezes à cintura as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui à secretaria sou mais do que eu:
Sou A Secretária do que não é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nos destino do gabinete invadido
Manda a vontade, que me ata ao
Senhor Ministro, o mais querido!"
Sai, sapo nojento, abandona este gabinete que não te pertence!
Tá calada, pá. Vai mas é tomar um banho frio.
EliminarO Ente ouve esses disparates todos e não entra.
Cidadã Filipa Brás, afaste-se desse sapo peçonhento! Ele está furioso, pode atacar a qualquer momento, não vê? Penso que está assim desde que o Senhor Ministro arrancou do jardim com as próprias mãos três nespereiras para oferecer à cidadã flor (a ingrata).
EliminarEstimada Maria Alice, quase me atrevo a fazer uma modesta proposta: talvez esteja na altura de libertar a Pessoa que há em si, fazer um spin-off (como soi dizer-se) deste hebdomadário, dar largas a tal veia poética, cantando a sua Mensagem, espalhando-a por toda a parte, que decerto para tal não lhe faltarão engenho e arte.
EliminarPronto.
EliminarMuito gosta esta gaja de ser o centro das atenções, nunca vi!
Senhor Comendador Xilre?!
Eliminar"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Quem sabe um dia liberte a pessoa que os segura.
Cidadã Filipa Brás, por S. Marcelo de Belém, controle-se. Pensei que já não precisasse de chamar os seguranças.
(Fónix, está tudo perdido! Então um gajo faz um blog para atrair as beldades da blogosfera, para viver tórridas histórias de amor, quem sabe criar um harém, e vai-se a ver não só não me aparece nenhuma como ainda me levam a Maria Alice?!)
EliminarMas eu sou uma beldade. Tenho é ojoelhos um bocado exfolados porque trabalho muitas horas seguidas. Vocelênssia avia de apressiar o meu serviçinho completo, ai avia, avia.
EliminarO Senhor Ministro que não se amofine com a intervenção deste eleitor -- retornarei para junto das minhas estantes sobrecarregadas, dos meus tomos bafientos, dos meus tratados cabalísticos, escrevendo os textos depressivos que as lombadas corroídas pela traça do tempo me ditam.
EliminarEstimada Maria Alice, foi um prazer esta brevíssima interacção de teor poético.
Ao Senhor Ministro endereço os protestos da mais elevada estima e consideração e os votos de continuação do maior sucesso blogolítico.
Senhor Comendador, muito agradecemos a visita, volte sempre, vou então fechar a porta, adeus e até à próxima, adeus, adeus... e enquanto regresso ao gabinete, murmuro para mim próprio "foi um prazer esta brevíssima interacção de teor poético?!" Pronto, lá me vai a Maria Alice ficar a suspirar pelos cantos, convencida que é uma Florbela Espanca, ó caraças...
EliminarÓ Maria Alice, arranje aí um balde com água, uma esfregona e um frasco de lixívia, que aqui a Carla quer fazer o serviço completo.
EliminarVocelênssia não teja com medo que eu quando quero sei ser meigilha. E não disfarçe que eu bem vi o olhar goloso que me amandou às cochas arredondas quando ensserava o ól da entrada acocorada.
EliminarNunca sentio o poder de uma mão sapoda, é o que é.
Ande cá, sua sinhuria. Ande.
Pronto, Carla, pode ir, que já se faz tarde. Vá, veja lá o horário que não queremos aqui os Sindicatos à porta por causa de horas extraordinárias. Dessa gente o Senhor Ministro quer distância.
EliminarMuito obrigada, mas pode ir.
Tão engraçada, esta Carla, não é, Maria Alice? Mesmo rústica! Nunca tinha estado tão perto de uma assim! Até foi emocionante, Maria Alice, parecia mesmo que estávamos num safari, caraças!
Eliminar(Suspiro)
ResponderEliminarAaaiiii, Senhor Comendador......
(Estremeço)
Hum? Que susto! Desculpe, Senhor Ministro, perdi-me em pensamentos. Um balde e esfregona, sim senhor, vou já pedir à Rute Micaela, que não a vejo há uma eternidade, deve andar de volta do motorista, para trazer um à Carla.
Carla?! Quem é a Carla.
É normal que te percas em pençamentos, um sérebo tão grande e dois pençamentos apenas: primeiro ponho o pé exquerdo e á frente o direito.
EliminarA Carla sou eu, muito gosto, que o praser é ali todo pó ministro.
Vai-me lá buscar um galão e uma torrada que estou ca franquesa.
Vê, Maria Alice!, a Carla é esta rapariga simples, porém sadia, com umas rosáceas cor-de-rosa bastante engraçadas. Dê lá uma voltinha, Carla! Olhe bem para ela, Maria Alice! Está a pensar o mesmo que eu? Podíamos aproveitá-la na próxima campanha para aqueles cartazes em que é preciso um elemento do povo!
EliminarMaria Alice, se quiser ser pirata, o convite mantém-se!
ResponderEliminarCapitã Cuca, estou tentada, muito tentada. Acabo de sofrer mais um golpe duro. O amor tem-me sido padrasto cruel, a vida uma madrasta pérfida. O meu coração empedrenece, sinto-me a um passo de largar tudo e viver para mar, sob as insígnias da caveira aposta na bandeira negra. É assim que me sinto hoje, capitã, um corpo sem vida, meras ossadas secas submersas na escuridão e treva.
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