domingo, 1 de maio de 2016

Não quis, também eu, deixar de fazer o meu primeiro post de homenagem a minha mãe

A mãe que me educou desde o berço para esta arte de ser Ministro, que ainda na maternidade me colocou a minha primeira gravata com um nó windsor duplo e me apresentou à imprensa à saída do hospital vestido com um mínusculo fato cinzento às riscas, que me ofereceu a primeira Montblanc aos dois anos, para me permitir treinar a assinatura com que ainda hoje embelezo documentos e contratos de elevado valor, a mãe que me presenteou com o primeiro orçamento de Estado encadernado e anotado aos cinco, a mãe que contratou Maria Alice, tinha ela seis anos e eu sete, e a vestiu imediatamente com uma saia preta, blusa branca e óculos de massa preta para que eu me habituasse desde pequeno a dar ordens e ela aprendesse a obedecer-me prontamente, a mãe que me acompanhou no primeiro dia de escola, enquanto eu seguia dois passos à frente segurando com a minha pequena mão a pasta rígida de pele preta e cantos dourados, distribuindo apertos de mão enérgicos pelos meus colegas, a mãe que deixou bem claro às minhas educadoras que deveriam dirigir-se a mim como Senhor Ministro e incentivar-me a investir o meu -já nessa altura - precioso tempo a redigir importantes e complexos Decretos-Lei que lhe ofereceria com um laço cor de rosa neste dia especial, no fundo a mãe que nunca duvidou que eu me viesse a tornar o homem incrível que sou hoje.

6 comentários:

  1. Oh, que bonito, Senhor Ministro!
    Tenho saudades da minha.
    A mãe que logo na maternidade me envolveu apertada numa manta que ela própria tricotou, como se de um casulo se tratasse, para que assim cingida me sentisse ainda no seu útero e não chorasse. A mãe que à saída da maternidade me resguardou dos olhares curiosos das vizinhas, não fosse alguma lançar-me mau olhado. A mãe que nunca contou a ninguém as noites santas que lhe dava, com medo que me cobrissem de mal de inveja. A mãe que trabalhou noite e dia para que pudesse estudar num bom colégio, que me permitisse conhecer as pessoas que viviam por detrás dos portoes altos e gradeamentos trabalhados para lá dos quais não ousava sequer espreitar. A mãe que me ensinou desde cedo que a é a lealdade que nos torna insubstituíveis. A mãe cuja ausência fez de mim a pessoa independente e focada que sou.
    A mãe que nunca duvidou que o destino me guardava um destino grande, ainda que invisível, como invisíveis são as sapatas que sustentam a mais robusta das muralhas, ser A Secretária do Senhor Ministro.

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    1. Maria Alice, a sapatona.

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    2. Engana-se, Lady Kina.
      A comparar-me com um sapato seria, seguramente, um bom sapato de pele, resistente, indeformável, no entanto macio e confortável, de excelente fabrico, produção exclusiva, cortado, moldado, montado, gaspeado, cosido, pespontado e solado para durar anos sem perder a qualidade do primeiro dia, antes adquirindo uma patine que o enriquece.
      Sabe o que é calçar um bom sapato, Lady Kina?

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