segunda-feira, 18 de abril de 2016

Em verdade vos digo, também sou um Camiliano assumido

Como aliás se pode depreender da situação que passo desde já a narrar, daquela noite em que, em viagem de Estado, dei por mim a partilhar um quarto com a Maria Alice, não sei como é que ela fez aquilo mas parece que o hotel estava completamente tomado e não lhe sobrava aposento algum e foi então que acabámos partilhando uma mesma alcova, eu sempre de modos dignos, dizendo-lhe, Maria Alice, credo, este hotel é uma autêntica Babilónia, se um homem não se precata, às duas por três não sabe de que freguesia é, e fechei-me à chave na casa de banho de onde saí vestido ratonamente, com o meu pijama de seda com cornucópias abotoado até cima, deitei-me imediatamente no leito, os lençóis rendados esticados até ao pescoço, pus a minha luneta de ouro e debrucei-me sobre difíceis relatórios da res publica e foi então que a Maria Alice saiu da casa de banho, parecia uma celerada, vestida com um baby-doll curtíssimo e repleto de ondas transparentes, fazendo negaças com o pecado, percebi depois que aquela proximidade com o meu corpo lhe dava tratos amaríssimos ao coração, trocando-me o nome, meu Adónis, meu Narciso, dizia ela, e eu:
- O que é lá isso, Maria Alice, sou o Senhor Ministro! e ela nada, com desusada afoiteza dizia "vou-te comer" e eu, claro, suei quando ouvi este canibalismo, suei de aflição, senti até engulhos no estômago, e então disse-lhe com voz grossa:
- Maria Alice, vista o robe de chambre imediatamente e faça favor de pôr a touca e um lencinho de três pontas sobre as espáduas!
Mas a Maria Alice, estava tomada pela perversão, pelas desvassidões de uma extravagante, arrancou-me as cobertas com os dentes, e foi-se aproximando lentamente, de gatas, o decote mostrando aquilo que deve estar tapado, sussurrando, palpitante, "Meu Ministrinho, de hoje não passa!", sinto-me ditosa, ao mesmo tempo que expedia uns grunhidos que me fizeram pavor, e então agarrei-me aos lençóis, puxei-os à altura das bossas parietais e disse:
- Tenho frio!
Mas a Maria Alice não descontinuava a sua investida, as unhas roçagando o meu corpo musculado, o corpo dela estreitando-se no meu até que, contrafeito, lhe disse decidido:
- Maria Alice, eu sou um homem mais interessado no trajar do espírito que nas galanices do corpo! E sem dar tréguas, saltei da cama num empuxão de raiva e gesticulando com frenéticos sacões de braços fechei-me na casa de banho onde tomei como leito a banheira.

Palavra de homem de bem!

4 comentários:

  1. Bem sei, Senhor Ministro, que somos de distintos estratos sociais. Bem sei que nunca esta sociedade aceitará com bons olhos o casamento de uma Maria Alice, secretária, com um Senhor Ministro, ministro.
    Mas as insondáveis forças do coração impelem-me louca e fatalmente para a vertigem de um amor absoluto e proibido. Sim, sou do povo, e ainda que mais bonita, sim, sou uma mulher atraente e insinuante, falta-me a delicadeza de uma fidalga. Sou mulher solitária, independente e sofredora, aprisiono uma alma e amor que se agiganta a cada dia que passa numa vida singela, mas a fibra de que sou feita faz do amor que trago no peito o maior que algum dia alguém possa dedicar a outrem. Sofrerei em segredo, deixando que me consuma, que me queime o peito por dentro, este amor que sei imaterializável. Ainda assim, manter-me-ei sempre fiel, Senhor Ministro, com o coração dilacerado agendarei rendez-vous, reservarei as melhores suites de hotel, mesas para dois nos melhores restaurantes, rendez-vous a que não irei, suites onde não me entregarei, restaurantes onde não jantarei, assim seja essa a vontade do Senhor Ministro. Agonizarei ansiando ouvir palavra amor saída de seus lábios, lábios que escassa e friamente balbuciam palavras de gratidão (e nem essas estou certa de alguma vez vir a ouvir).
    Sim, perdi-me quando quis quebrar as regras, quando tentei seduzi-lo, debalde (e de babydoll).
    Camiliana me assumo também, Senhor Ministro, amo, perco-me e morrerei amando. Um amor absoluto. Fatal.

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    1. Afinal somos logo três Camilianos! Isto é já um ajuntamento de camilianos, uma manif!

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  2. O ministro João José Dias e a secretária D. Ludovina da Glória Pimenta.
    Também é?...

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    1. Meu caro, quanta honra! Dois Camilianos juntos, aqui, no meu blog! Ó Maria Alice, traga um Porto e a caixa dos charutos!

      (não estará por acaso a insinuar que eu, um verdadeiro Adónis, sou gordo, feio, ciumento e desconfiado, pois não?)

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