sexta-feira, 22 de abril de 2016

Maria Alice, sente-se aí para me ouvir que eu preciso de desabafar

Espere, espere que esta revelação que lhe vou fazer já tem que cumprir os novos mandamentos deste blog. Deixe-me curvar o meu corpo para a frente, apoiar os cotovelos nos joelhos e mergulhar a cabeça entre as mãos para com elas segurar a nuca e apertar os parietais. Acha que estou bem assim, Maria Alice? Pareço-lhe já com indícios depressivos? Óptimo. Óptimo. O que lhe queria dizer, Maria Alice, é que me enganei. E não foi um engano qualquer, foi um engano grave, não dei atenção às tendências, não pedi um estudo de mercado mais aprofundado e portanto não me apercebi a tempo que um blogger, para ser levado a sério, para ser um bom blogger, tem de entrar na corrente. E a corrente, Maria Alice, o que está em voga, Maria Alice, é ser depressivo. É verdade, Maria Alice, poderia ter sido um romântico-depressivo, um cinzento-depressivo, um urbano-depressivo, um pirato-depressivo, eu sei lá que isto dentro do género depressivo há um enorme leque de escolhas, mas não, não pensei e depois deu nisto. Mas agora, Maria Alice, agora que já vi a escuridão, tomei uma decisão: vamos ser depressivos! Não, não vamos ser só depressivos, vamos ser muito depressivos, dolorosamente depressivos. Vamos ser criaturas angustiadas, deprimidas, deprimentes, melancólicas, macambúzias, olhe vamos ser isto tudo, vamos ser uns sorumbáticos do caraças. Fónix, Maria Alice, isto vai ser um desânimo tal que o pessoal, depois de aqui vir, se vai suicidar para a ponte sobre o Tejo, tudo a saltar lá de cima e o caraças. Agora vá, apague as luzes, feche as persianas, para o ambiente ficar todo ele mais lúgubre e deixe-me aqui sozinho na penumbra, prostrado nesta minha poltrona de couro. Depois eu faço assim este gesto com a mão, está a ver o gesto, Maria Alice? como se estivesse a sacudir um mosquito incomodativo, sem sequer levantar a cabeça, como que diz, vá, vá, quero lá saber, a minha vida não tem sentido.

MARIA ALICEEEEEE, espere aí, já agora, antes de sair, ponha-me aqui uns pingos nos olhos, para dar ares que estou a chorar.

11 comentários:

  1. Oh, Senhor Ministro, toma-me o desalento. Que dor é esta que trago no peito? Oh treva profunda que me envolve, negrume que me aparta o coração do peito. Que me gele o sangue nas veias, que se suste a vida que em tempos houve em mim e se apague o brilho que estes olhos nunca tiveram.

    (Estou a ir bem, Senhor Ministro? Uma vez que estamos aqui neste escurinho gostoso, posso cair nos seus braços em pranto desesperado. Que lhe parece? Vou só soltar o cabelo e abrir mais um botão da blusa para dar mais dramatismo à situação)

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    1. Tem de esfregar o cabelo para ficar mais despenteada, com nós e tudo, e se calhar punha uma merda qualquer na cara para ficar com mais olheiras e assim.

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  2. Meu caro Ministro,
    O amigo não se deixe ir. Mantenha-se firme nos seus propósitos de ser o que, ab initio, nasceu para ser. Em querendo espairecer, apareça lá pela herdade, onde será bem-vindo. Aquilo é quase um sanatório. Respira aqueles ares e vem de lá melhorado.
    Boa continuação,
    Outro Ente.

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    1. Saio de lá melhorado? Pois então se eu quero é ficar deprimido!...

      (já percebi que isso é uma estratégia para me levar ao insucesso. Mas que fique aqui bem claro, a partir de hoje Vou ser o mais deprimido de todos! E depois sempre quero ver quem ganha)

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    2. Espero que ganhe! Por mim, se o vencedor é "o mais deprimido", tudo farei para perder.
      De qualquer forma, o convite mantém-se.

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    3. Maria Alice, não desconfia deste convite? é bastante óbvio que o Outr'ente me quer asfixiar durante o sono com uma almofada.

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    4. Antes teria que me asfixiar a mim. Jamais permitiria que lhe fizessem mal, Senhor Ministro, nem que me custe a vida.
      Pois eu acho que é o pretexto perfeito para nos infiltrarmos em território inimigo sem levantar suspeita e esclareceríamos se o que diz é verdade ou se não passa de conversa de marialva.

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  3. Veja lá o senhor ministro se a ala pirato-depressiva arranja forma de se animar deitando-lhe o fogo ao blog não sem antes o trespassar a si com uma espada de punho de madrepérola, coisa fina...
    (As pessoas escolhem sempre as vésperas dos fins de semana prolongados para me darem pretextos para lhes declarar guerra. Já não se respeita nada!)

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    1. Ora, Cuca, é uma excelente momento para declarar guerra.

      (a ver se a apanho distraída)

      (elevando assim as minhas hipóteses de vitória)

      (até porque essas conversas libertadoras com a Maria Alice têm que acabar...)

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